Tempo de Recomeçar - 2° Capítulo


POV MARIANA
Forks é uma cidade pequena, fria e chuvosa, mesmo estando na primavera não faz muito calor, o verão deve ser ameno também, rodeada de árvores, verde, verde, verde, muito verde. Nossa não pensei que fosse tanto, mas tudo bem, é questão de hábito. Enquanto atravessava a cidade aproveitei pra encher o tanque, já tem menos da metade e não sei se em La Push há posto de gasolina. As pessoas ficam me olhando o tempo todo, típico, aqui todo mundo se conhece, já devem saber quem eu sou ou o que vou fazer ali. Essa é a parte que não me agrada, todo mundo saber da minha vida, vai ser o mais difícil pra mim.
Enquanto enchia o tanque fui à loja de conveniência pra pegar um sanduíche e um suco, não como desde o café da manhã e já é quase uma da tarde, já to passando da hora do almoço. A moça do posto me olhou com ar interrogativo, fiquei séria, não ia começar a falar e dar explicações logo de chegada, principalmente pra alguém que nem conheço. Paguei pelo lanche e paguei pela gasolina, voltei pro carro, peguei o mapa, memorizei e me dirigi a La Push.
Enquanto comia e dirigia notei a cidade ficando pra trás, e mais árvores aparecerem, não me espantou, afinal era uma reserva indígena, já era esperado. O silêncio estava me incomodando, pelas minhas contas ainda faltavam uns três quilômetros pra chegar e meu nervosismo foi aumentando, resolvi ligar o rápido pra me distrair foi então que tomei o maior susto. Quando um curto se propagou por todo o painel, enchendo o carro de fumaça e apagando o motor, foi muito rápido, por reflexo freei, quase bati em uma árvore, meu coração parecia que ia saltar pela boca. Saí do carro rapidamente, pois o cheio de queimado era insuportável e a fumaça sufocante. Tossi tanto que parecia que não ia conseguir parar e meus olhos lacrimejavam.
Quando estava conseguindo me recuperar, percebi a aproximação de uma viatura de policia, pra minha sorte, cidade pequena sempre tem uma patrulha, e como não conheço nada nem ninguém, com certeza seria bem útil. O policial parou logo atrás do meu carro e se aproximou lentamente, observando minhas reações, curioso pelo que estava acontecendo e cauteloso, como se eu fosso um bandido, coisas de policial, prevenção, claro!
– A Srtª está bem? O que aconteceu? Posso ajudar em alguma coisa?
Ao me ver, a expressão dele mudou para preocupada, eu estava sentada no chão, com os olhos completamente vermelhos, parecia que tinha chorado horrores, acho que isso fez ele se assustar. Dei um sorriso fraco e respondi:
– Sim, obrigada! Foi só um susto. Acredito que uma pane elétrica, pois do nada encheu tudo de fumaça e quase bati na árvore, ta tudo cheirando a queimado, vou precisar de um bom banho pra tirar esse cheiro.
Ele me olhou e foi verificar o carro, ficou pensando por uns minutos e depois ofereceu:
– Conheço uma oficina aqui perto, em La Push, os garotos são bons, posso te rebocar e te dou uma carona, pra onde você vai?
–Ah, isso seria muito gentil de sua parte, obrigada! Estou indo pra La Push, uma entrevista de emprego, vou ficar no hotel, e a propósito sou Mariana Sanches.
–Você é a moça que estão esperando pra trabalhar no posto médico? A enfermeira?
– Sim, acredito que sou eu mesma, o Senhor conhece as pessoas de lá?
– Aham, tenho grandes amigos na reserva, vou lá quase todos os dias, sou Charlie Swan, chefe de policia local, ao seu dispor.
–É um prazer conhecê-lo e sua carona será muito bem vinda, podemos ir? Não quero me atrasar.
Ele foi até o carro de policia pegou uma corda, deu a volta pra amarrar no meu carro, depois nós empurramos de volta pra estrada, ele pegou minha bagagem e colocou na viatura, tive que ir no meu carro pra poder guiar, apesar do cheiro horrível, não poderia deixar de fazê-lo, pois não tem como deixar o carro guiar sozinho. O caminho foi bem rápido, logo dobramos em uma rua, que dá estrada dava pra ver a placa da oficina Black’s e Cia, em letras grandes, vermelhas. Qualquer pessoa que passasse em frente à reserva poderia ver.
Ao chegar à frente do portão enorme paramos, eu tratei de sair do carro e ele também saiu pra me ajudar. Chamou um rapaz pra ver o carro e logo nos apresentou:
– Seth, você pode dar uma olhada nesse carro, acho que foi pane elétrica.
Logo um rapaz, moreno, forte, alto veio até nós, apesar do jeito de homem, tinha expressões de garoto, ou ele cresceu rápido de mais, ou ele parou no tempo. Ao olhar o carro ele me notou e torceu o nariz, talvez pelo cheiro forte, eu percebi e me adiantei:
– Desculpe pelo cheiro, é do carro, vou precisar de um bom banho pra me livrar dele. Disse o mesmo que tinha dito ao Charlie, pois era a verdade.
Ele sorriu e olhou pro policial com expressão interrogativa.
– Ah, deixe-me apresentar vocês, Mariana este é o Seth, ele trabalha aqui na oficina, provavelmente ele ou um dos garotos vai resolver esse seu problema. Depois ele olhou o rapaz e disse:
–Seth essa é a Mariana, ela veio pra vaga de trabalho no posto, tem entrevista hoje com a sua mãe e o resto do conselho, ela via ficar no hotel.
Nossa, em poucos segundos ele já deu todo o relatório, realmente ia ser complicado me acostumar com isso. O rapaz me olhou, deu o seu melhor sorriso e disse:
– Seja bem vinda a La Push, boa sorte na entrevista. Não se preocupe com o carro, nos damos um jeito, só preciso que deixe o documento comigo. Mais tarde olhamos e fazemos o orçamento, pode passar aqui no final da tarde, tipo umas 18h00min horas, assim provavelmente já teremos alguma coisa pra você. Tudo bem?
– Claro, sem problemas, aqui o documento, tenho que assinar alguma coisa?
– Não por enquanto é só o orçamento, se você aprovar nós abriremos a ordem de serviço e aí sim você assina.
– Ok, melhor então, preciso realmente de um banho, esse cheiro está me matando.
Ele e o chefe Swan sorriram, mas não falaram nada, depois fui de carona na viatura até o hotel, agradeci o policial e fui direto pra recepção. Tinha que ser rápida pra não me atrasar, não daria uma boa impressão.
O lugar era pequeno porem aconchegante, um estilo meio rústico, tinha apenas quatro andares, uma recepção ampla, bem iluminada, um balcão de madeira, a direita alguns estofados para os hóspedes conversarem, ao fundo uma porta de vidro daria a um restaurante, de onde vinha um cheiro maravilhoso, comida caseira com certeza. Fui atendida por uma moça muito simpática, com cabelo curtíssimo e pele morena, olhos negros e uma expressão de alegria contagiante, ela parecia realmente feliz, e o que mais gostei nela? Não me fez uma pergunta sequer, me entregou a chave, ficaria no quarto 302, de frente pro mar, exatamente como pedi, me explicou os horários do restaurante, caso eu quisesse fazer minhas refeições ali. Eu tinha reserva pra três dias, caso fosse ficar mais teria que renovar com antecedência, pois com a proximidade do verão o hotel fica cheio e as vagas são bem disputadas. Um rapaz bem jovem, mas nem tão simpático pegou minhas malas e me acompanhou até o quarto, não disse uma palavra durante todo o trajeto, ao entrar me desejou uma boa tarde e se retirou, mais uma vez fiquei agradecida por isso. Dei uma rápida olhada no quarto, aconchegante, e fui pra sacada ver o mar, lindo, agitado e escuro. A maresia invadiu o ambiente quando abri a sacada pra ver melhor, o lugar é lindo, a vista é incrível e meu coração se sentiu em casa, coisa que há muito tempo não acontecia me senti em paz. Automaticamente lembrei-me do meu pai, ele adorava o mar, dizia que ainda ia morar na beira da praia, infelizmente ele não teve tempo, mas quem sabe eu consigo realizar esse sonho dele, talvez ele fique feliz por min.
Depois de um tempo fui pro banho, minha entrevista seria a pouco e não sabia onde ficava o posto, teria que achar o lugar não podia ficar pensando na vida, faria isso outra hora, quando tivesse mais tempo. Peguei um vestido cumprido, até a panturrilha, branco com umas flores estampadas, no busto um elástico grande e enrugado, de onde saíam duas alcinhas, era justo até a cintura e rodado pra baixo, tomei um banho caprichado, tirei aquele cheiro horrível, usei meu xampu predileto de jasmim, pra completar o visual deixei o cabelo solto, coloquei apenas uma tiara pra não ficar caindo no rosto, coloquei uma sapatilha branca, um bolerinho preto, um conjunto de brincos, corrente e anel que tinha ganhado do meu pai há alguns anos, pra dar sorte, ele tinha várias pedrinhas coloridas, meu pai adorava quando usava. Não costumo usar maquiagem, passei apenas um glóz pra dar o ar de molhado na boca, me olhei no espelho, gostei do que vi, apesar de ser considerada alta com os meus 1,78 cm fiquei super bem, minha pele clara contrastou com o vestido, e meus olhos verdes se destacaram com o cabelo castanho escuro solto e molhado. Peguei minha bolsa, a pasta com os meus documentos e fui ao encontro do meu destino, é agora, tudo ou nada. Aquele friozinho na barriga voltou com tudo, o coração acelerou, mas tenho um bom pressentimento, sinto que minha vida nunca mais vai ser a mesma, tenho fé que tudo vai dar certo. Conselho quileute aí vou eu!
POV JACOB
Estava distraído embaixo de um carro, concentrado no trabalho quando vejo a viatura do Charlie estacionando. Não é fácil ficar convivendo com ele, sempre que o vejo tenho lembranças dela e sinceramente não quero ficar lembrando, por isso nem me dei o trabalho de atender, evito ao máximo ter contato, apesar de ser difícil, pois ele e meu pai são grandes amigos, mas sempre que posso, eu evito.
Charlie é um cara legal, não se conformou quando a filha foi embora com o namorado, foi pra universidade do Alasca, nunca mais o visitou, apenas liga, uma vez por semana, não parece no Natal ou em qualquer outra ocasião, ele ficou sozinho novamente, o que pra ele não foi fácil, pois o vazio que ela deixou foi grande demais, após ter ficado tantos anos só, a companhia da filha o deixou mais alegre, acostumou-se em ter alguém em casa novamente e por isso à ausência dói ainda mais. Claro que ele não imagina o motivo do sumiço dela, ele acredita que ela ficou magoada por ele não aprovar o relacionamento dela com o Cullen, mas na verdade é que quando eles foram embora, ela foi transformada e não seria seguro pra ele, nem pra Forks, se uma vampira recém criada tivesse vagando pelas ruas, provavelmente ele acabaria morto e nós teríamos que matá-la e aos amiguinhos sanguessugas dela, então eles a levaram pra longe, já que por causa do tratado morder alguém aqui está totalmente fora de cogitação, e só voltariam depois de muitos anos, quando ela estivesse “ controlada”.
Fui desperto dos meus devaneios quando ouço o Charlie apresentando o Seth para uma moça, não vi o rosto dela, mas graças aos meus genes lupinos ouvi sua voz muito bem, uma voz doce e gentil, ansiosa. Seria a moça pra vaga do posto, coitada dela, a última inventou de se envolver com um dos médicos e quase foi linchada, por ela ser jovem e provavelmente ter uma boa aparência vai ter trabalho pra mulherada confiar nela, que Deus a ajude, pois vai precisar.
Depois do breve diálogo com Seth, Charlie a levou para o hotel onde vai ficar, é o único de La Push, não teria como ela se perder, mas Charlie é um cavalheiro, não deixaria que ela carregasse a bagagem sozinha.
Pelo cheiro de queimado que vinha da rua concluí que o carro teve uma pane elétrica, causada provavelmente por uma descarga, deve ter sido mau uso, talvez não fizesse revisão seguido, prevenir é sempre mais barato, mas infelizmente as pessoas não fazem assim, o que nos deixa com cada vez mais trabalho e a oficina sempre cheia.
Pelo que pude ver do garoto ele gostou da moça, seu olhar matreiro e sorriso largo o denunciaram, ele veio a minha direção e falou:
– Puxa Jake, a garota é uma gata! Você devia ter visto, tomara que ela fique por aqui mais um tempo, hehe
– Nossa garoto, nem parece que tem namorada, deixa a Renata saber que já ta de olho na enfermeira, vai apanhar e ficar de olho roxo.
– Rara, até parece. Ela não é minha namorada, assim como você e a Débora, agente só fica ninguém é dono de ninguém, se pintar outra pessoa agente aproveita. Ou você acha que eu não sei que ela andou ficando com aquele cara de Forks, ela pensa que me engana, mas enquanto ela pega um eu pego dez!
–Gente, não sei como vocês conseguem ser assim, nem me imagino nessa vida de safadeza, to loco que a Claire cresça pra gente se acertar de vez. Disse o Quil, se manifestando pela primeira vez.
– Pois é, mas enquanto isso se fica de babá e agente aproveita a vida, pensa bem, a cidade ta cheia de gatinha e nossa aparência ajuda pra caramba, temos mais é que aproveitar.
Esse foi Embry, em minha opinião o mais mulherengo de toda reserva, se amarrar tava totalmente fora de questão pra ele, apesar de viver me enchendo o saco pra que eu arrume uma garota e me amarre, tipo faz o que eu digo, mas não faz o que eu faço.
Mas a verdade é que eu to me cassando dessa vida, por mais que eu saia e veja alguém, fique com uma garota, quando volto pra casa fico sempre sozinho, só eu e meu pai, dormir sozinho e acordar sozinho, ter que cuidar de tudo, não ter alguém pra desabafar, conversar, dividir o dia a dia. O problema que só o fato de me envolver novamente me dá pânico. Medo de ser rejeitado, de não ser correspondido, de não dar certo ou pior, de ser trocado por outro, definitivamente eu não agüentaria isso uma segunda vez, sendo assim, optei por apenas ter relacionamentos superficiais, nada de muito profundo e nada que dure muito tempo. Quando vejo que a garota ta se apegando eu pulo fora. Depois de nossa pequena discussão Seth diz:
– Bom, eu garanti que faríamos o orçamento do carro da Mariana ainda hoje, ela vai passar aqui no final da tarde, é um Camaro 92, em bom estado, ou ela gosta de clássicos ou é herança de família, pois ela parecia apegada a ele. Jake preciso que você ou o Quil façam isso, já que elétrica não é o meu forte e Embry já ta atolado, mas tem que ser breve, pois se for muita coisa, ainda vamos ter que ligar pra Port Angeles pra pegar o preço das peças. Posso contar com você?
– Claro moleque, assim que acabar aqui eu vejo isso, o pior vai ser tirar o cheiro, o carro ta fechado e eu sinto daqui, vamos ter que desmontar e lavar todo estofado, já adianto que o trabalho vai levar alguns dias, talvez ela tenha que ficar por pelo menos uma semana.
–Tudo bem, se ela passar na entrevista vai morar por aqui mesmo, se não ela fica curtindo a reserva por esses dias, quem sabe ela encontre alguém interessante!
– Você não presta garoto, não vai crescer nunca. Pode deixar já to indo.
–Hei Jake, fala sério, você tem que conhecê-la, tenho certeza que faz o seu tipo, você vai gostar!
–Ta bem Seth, parece até meu pai, pegando no meu pé, me deixa fazer as coisas direito se não acabo me distraindo e não sai nada que preste.
E lá fui ver o problema do carro e conferir tudo pra que o orçamento fique pronto a tempo, três horas depois já tinha descoberto a causa do problema, foi um módulo que deu curto e arrasou todo o sistema, teria que refazer toda a parte elétrica, a peça só foi encontrada em Seattle, e só por encomenda, levaria dez dias pra chegar, a moça ia ficar uma fera. Isso nos daria tempo pra lavar tudo e tirar o cheiro de queimado, mas mesmo assim, ela ficaria dez dias sem carro, duvido que fosse gostar da idéia.
Após terminar o orçamento, combinei com Seth que ele explicaria tudo a ela, visto que foi com ele que ela falou, eu iria sair mais cedo, queira fazer ronda hoje, precisava correr sentir o vento no meu rosto, depois iria pra casa e dormiria logo, exausto como sempre. Mas infelizmente meus planos foram por água a baixo, pois um cliente que sempre pagava muito bem, e só faz serviço comigo, trouxe a moto, que tava com problemas na injeção e precisava dela pro final da tarde. Bom, eu sou bom com motos e não podemos desperdiçar uma boa grana não é.
Acabei ficando por ali mais tempo do que previa, e quando finalmente terminei, começou a chover, droga, a idéia de correr já não tava tão legal assim. Fui até o portão pra vêr se a chuva ia ficar mais forte ou se ia durar muito quando de repente senti algo se chocando no meu corpo, por impulso segurei firme pra não deixar cair, foi nesse momento que meus olhos se perderam naqueles olhos verdes, um medo invadiu meu corpo, minha vida não seria mais a mesma, disso eu tinha certeza.



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